Entendendo uma barragem de rejeitos de minério como a de Brumadinho

Esse artigo apresenta um breve resumo do que é uma barragem de rejeito de minérios construída à montante, caso da barragem que rompeu e gerou a tragédia de Brumadinho. Faz-se também uma breve comparação com outros métodos de alteamento.

“Altear” significa aumentar a altura da barragem. Isso é feito construindo-se diques que podem ser feitos com a parte mais grossa selecionada do próprio rejeito de minério que a mesma vai conter. O rejeito é transportado por tubulações, sendo arrastado por água, o que barateia o seu transporte. Dessas tubulações o rejeito saturado de água é lançado conforme o processo chamado de “aterro hidráulico”, de modo a formar uma “praia”, em que as partículas mais grossas (arenosas) que sedimentam rapidamente ficam próximas do dique, enquanto as mais finas (siltosas e argilosas) sedimentam vagarosamente, a partir da suspensão líquida, na região mais distante do dique.

Esse tipo de barragem com alteamento à montante possui diques que são construídos um sobre os outros, porém deslocados na direção da montante (parte elevada da encosta). Isso resulta em economia de material, porém também em menor massa de contenção do rejeito. As figuras 1 e 2 mostram um exemplo de como é feito este alteamento.

Figura 1 – Esboço em perspectiva de uma barragem com alteamento à montante. Notar o dique de partida em vermelho e a tubulação de transporte do rejeito (por Kurt Amann).
Figura 2 – Perfil lateral de uma barragem de rejeitos com alteamento à montante (por Kurt Amann).

Já uma barragem com “alteamento pela linha de centro” tem seus diques construídos um sobre o outro centralizados, tendo todos eles a referência do ponto central do dique de partida (o primeiro a ser construído). A figura 3 mostra um exemplo. Isso leva à necessidade de se complementar a face externa do dique de partida com material adicional para que se tenha uma base de apoio para o dique a ser construído em seguida. Assim, esse método exige cerca do dobro de material do que o método à montante, sendo mais caro. Contudo, tem mais material de contenção, resultando em maior segurança.

Figura 3 – Barragem com alteamento pela Linha de Centro. Notar o material adicional lançado na face externa dos diques para construção do dique seguinte (por Kurt Amann).

E, finalmente, o método de “alteamento à jusante”, exige que o complemento do dique inferior seja maior para apoiar o dique superior completamente, que é alinhado em direção da jusante (oposta à montante), de modo que o novo dique não se apoia no material de rejeito. Isso consome cerca de 3 vezes mais material do que o método à montante, mas traz mais segurança, por ter mais massa de material na barragem de contenção, como mostra a figura 4.

Figura 4 – Barragem com alteamento à Jusante. Notar a grande quantidade de material adicional lançada na face externa para construção dos diques seguintes (por Kurt Amann).

Indicações para leitura complementar:

http://www.itv.org/linha-de-pesquisa/tecnologia-de-barragens-e-disposicao-de-rejeitos/

Veja a minha entrevista concedida ao SBT (1min:19s e 2min:13s).

Veja também a minha entrevista para o Documento Verdade da Rede TV (10min:59s).

Veja a chamada do Fantástico de hoje, 03 de Fevereiro, com minha entrevista.

https://globoplay.globo.com/v/7348892/

Tendo dúvidas ou comentários, clique em “deixe uma resposta” !